terça-feira, 29 de março de 2011

Atenção sem intenção


Desenvolvemo-nos intelectualmente para estarmos preparados para as demandas da vida. Para isto nos especializamos em alguma atividade, nos preparamos anos a fio, para então realizar o nosso intento. Acho curioso pensarmos nas palavras que envolvem o subjetivo e o concreto de nossos corpos.

Estar preparado é estar “parado antes”, esta pequena suspensão diante de um evento que faz surgir imediatamente a ação ou reação adequada. Estou preparado para fugir ou lutar diante de uma demanda. Quando negativamente não nos sentimos preparados, isto significa que não podemos precisar que tipo de reação teremos diante de uma situação especifica.

Queremos estar preparados, pois queremos estar no controle, queremos antecipar resultados, optar por aquilo que mais nos agrada, e quando perdemos o controle, o que na verdade sempre acontece já que não podemos controlar nada mesmo, nosso corpo sofre em variadas partes uma forte contração, ir contra uma ação é sempre ir contra a vida e sua inevitável capacidade de nos surpreender e ensinar.

Nosso ser esta contraído, pois contrair é o movimento orgânico do medo, tanto no corpo rígido e tensionado, quanto no campo emocional, quando por medo de sofrer e de perder o controle nos fechamos. Este medo paralisa nosso corpo mesmo estando ele em movimento, preso em atividades onde a consciência não “presentifica” as ações, tornamo-nos mecânicos, robotizados.

Por outro lado precisamos compreender a atenção, a própria palavra indica uma negação da tensão, um estado de relaxamento onde a perceptividade, livre de escolhas e do desejo de controlar, flui no momento presente em extraordinária sensibilidade. Por não existir nenhuma contração, por deixar-se ir sem contrariar aquilo que é, que se manifesta neste exato instante no corpo ou na mente, há transbordamento de energia, pois nenhum nó mais a retém.

No entanto a atenção só pode estar presente se estivermos livres de intenção, palavra que significa “em-tensão”, estar tencionado. Se existir qualquer objetivo, qualquer escolha, qualquer preferencia, existirá expectativa, ou seja: "a espera de alguma coisa, a espera que repousa numa promessa ou numa probabilidade”.

A meditação, que é a própria atenção não trás nenhuma promessa, você até pode se interessar pelo funcionamento do cérebro no estado meditativo, você até pode ler varias opiniões a respeito, seja pró ou contra a meditação, existem alguns gurus marqueteiros vendendo a meditação como panaceia espiritual, ou como um supertônico mental que lhe fará um Super-Buda de capa amarela, mas nada disto é meditação.

A essência da escolha é a existência daquele que escolhe, precisa existir uma personagem fixa e imutável escolhendo. Se averiguarmos a ficção da entidade quimérica do “eu”, quem então estará presente na meditação para escolher? classificar, qualificar, julgar e preferir? A essência da meditação é a ausência da escolha. Por tal motivo ela é desinteressada. Nada espera, não toma partido pelo agradável, não rejeita o desagradável, não tece comentários, não se deixa abduzir pelo fluxo de pensamentos, não condena, nem aprova, não se orgulha, não exerce controle, não evolui, nem retrocede, não tem maculas, não deixa rastros, não reforça a personalidade, não gera devaneios nem visões de tipo transcendentalista.

Não nos faz melhores nem piores, pois não compara, não julga, não hierarquiza. O sentar para meditar não deve ter outra expectativa senão o sentar para meditar. Assim experimentamos a nossa real natureza de observadores, investigando os fenômenos da alma humana com todo o seu espetáculo efêmero de sentimentos e pensamentos. Bem como o corpo material com todas as variáveis possíveis de sensações. Meditando nada pode ser garantido, não podemos assalariar esta experiência com nada de concreto ou subjetivo. Não existe lucro na meditação, e nós fomos educados a acumular, a reter, a meditação, no entanto é um esvaziar, e isto não é uma promessa, é um fato observável a todo meditador.

Quando você medita, você esta em contato com o maior espetáculo do universo, você mesmo.

Relaxe e sinta o que este momento presente lhe revela, fique de mãos vazias, pois é assim que chegamos aqui e é assim que partiremos também, plenamente vazios.

Vida Plena!

Um comentário: