sexta-feira, 11 de março de 2011

Quando tudo o mais falhar


Quem não esta atrás da felicidade? Todos querem experimentar um estado continuo de satisfação e alegria, e inventamos muitos “mapas do tesouro” diferentes. A felicidade parece sabonete, quando achamos que a temos em mãos ela, vupt! Escorrega de nossas mãos. Ela já foi procurada numa vida hedonista cheia de prazeres sensuais, no final provou-se que ela não é muito dada a baladas, vem nos visitar, mas sempre está com pressa, chega, ceia conosco e logo vai embora, fazendo papel de cachorro magro. Ao fim no caminho dos prazeres efêmeros chegamos com as mãos vazias e voltamos com as mesmas mãos vazias e certa dose de frustração e culpa.

A felicidade já foi procurada nos relacionamentos, na construção de uma relação estável e na educação dos filhos, mas quais são de fato as garantias oferecidas dentro das relações? Não podemos de fato viver na absoluta segurança, a pessoa que amamos hoje, poderá ser nosso pesadelo amanhã. Ninguém pode garantir seus sentimentos, e como somos mutáveis por natureza, invariavelmente nos frustraremos com as pessoas que não nasceram para realizar nossos desejos. Hoje quem amamos poderá partir, seja com outro, ou para o outro “mundo”, e irremediavelmente sofreremos se apoiarmos nossa realização no outro.

Alguns buscaram a felicidade em lutas politicas, de classe, em algum movimento revolucionário, mas a mudança externa não necessariamente produz alguma transformação interna, ao fim vê-se que a bandeira de luta sociopolítica, pode ser importante para mudar a situação social em que estamos inseridos, mas a felicidade precisa acontecer independente do mundo que nos cerca. Os lideres revolucionários, não raro, aposentam-se como os mais acomodados.

Buscar a felicidade em algum tipo de consolo místico também não parece muito inteligente, inventamos a cada dia uma nova religião, com um novo e exótico Deus para adorar, buscamos alivio na outra vida porque nesta parece-nos impossível de encontrar. Estes agrupamentos religiosos acabam servindo aos interesses de vampiros emocionais, que sugam o dinheiro e o tempo de pessoas carentes e desesperadas. Se religião pudesse garantir alguma felicidade já não deveria existir sofrimento no mundo, afinal são tantas denominações e crenças há tanto tempo sobre a Terra e pouca coisa mudou, só para pior de fato.

A realização profissional pode trazer uma boa dose de alegria, mas também ela não garante de fato nossa felicidade, hoje podemos estar em um negocio prospero e amanha perdemos toda a nossa tão amada fortuna. Hoje estamos felizes com o que fazemos; amanhã uma crise existencial pode nos revelar que estamos rumando contra o nosso desejo e verdadeira vocação. Sucesso e fracasso se alternam e depositar a felicidade na realização profissional também me parece contraproducente. Sucesso e fama também são impermanentes.

O cultivo intelectual de longe é um bem um tanto mais perene, nutrir-se interiormente com cultura e conhecimento pode ser muito útil, mas também não significará que a felicidade é garantida através do intelecto. O conhecimento é dinâmico ele pode proporcionar discernimento e compreensão do mundo, o que nos ajudará a conduzir nossos passos, mas também teremos que correr atrás, se atualizar, este é um jardim que deve ser constantemente cuidado. Mas a felicidade parece ir para um campo ainda mais profundo, assim podemos ser intelectuais brilhantes, no entanto taciturnos, sombrios.

A felicidade não pode estar apoiada naquilo que é perecível, ou então teremos de admitir sua transitoriedade, ela também não deve ser confundida com alegria, pois este sentimento também é mutável, alegria e tristeza revezam-se em nosso universo emocional. A felicidade não pode estar associada com o tempo e o espaço, com situações de vida ou conquistas transitórias. Uma vida prospera e abastada pode ser profundamente triste, assim como uma vida simples privada de inúmeros confortos e comodidades pode ser sobremodo feliz. Já buscamos a felicidade de muitas maneiras e fracassamos, este fracasso é em verdade uma benção feroz, que remove o ilusório para que a realidade possa brilhar. É bom que frustremo-nos com estas buscas infrutíferas.

Quando tudo o mais falhar, então invariavelmente nos voltamos para nós mesmos, e quem sabe poderemos encontrar a fonte de toda felicidade no nosso centro mais profundo, assim buscaremos refugio em nosso próprio SER. Quando as ofertas do mundo externo fracassarem em suas promessas falsas de satisfação, quem sabe fecharemos os nossos olhos para adentrar os nossos bosques sombrios em busca de nós mesmos. Felicidade é equanimidade, felicidade é a descoberta de si, é a aceitação de si. Felicidade é viver em paz livre de conflitos.

Então sim poderemos viver uma espiritualidade livre de dogmas e absurdas verdades inquestionáveis. Poderemos celebrar a vida sem a necessidade de ferir ou sair machucado pela inconsequência de nossos atos. Poderemos viver relacionamentos profundos em que a verdade seja o solo fértil para o amor florir. Poderemos lutar numa revolução mais consistente em que a transformação social é o resultado da transformação interna. Poderemos aplicar nossa energia, força e o suor de nossas frontes naquilo que verdadeiramente é a nossa vocação, uma vez que sabemos quem somos, sabemos o que viemos realizar no mundo. Para ser felicidade tem que ser incondicional, pois a felicidade não é algo que se tem, é algo que se É. Nesta realização plena da felicidade, nosso intelecto não mais estará em conflito com nossas emoções, harmoniosamente integrado o pensamento, a palavra, as atitudes e os sentimentos.

Onde não existir conflito, haverá paz, equanimidade e clareza interna!

Haverá por fim a tão desejada Felicidade

Vida Plena!

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